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Ato XIV - Terra da Liberdade
Jonas deixa a ilha de Corrumpo nas costas do grande pássaro. Seus braços dão a volta no colar de penas brancas do abutre e as mãos molhadas agarram com força o peitoral do animal. Ele aproveita para descansar quando a ave voa contra o vento e plana por alguns instantes, antes de voltar a bater as asas para ganhar ainda mais altura. Os dois voam alto, acima das nuvens, e deixam a chuva e os trovões para trás, o caos e a velha noite são agora apenas lembranças distantes quando Jonas vislumbra, ao longe, o verdadeiro paraíso: cadeias de montes verdejantes por todos os lados, de mil cores cintilantes, em diversas alturas recortados. Jonas percebe também algumas casas quando o pássaro contorna uma gigantesca rocha que mais parece uma cabeça com olhos e uma boca pequena. A luz do Sol atravessa as cortinas d’água que pendem das pedras e um arco-íris celestial indica o caminho até uma campina coberta de rosas. Lá, neste campo elísio, eles pousam.
JONAS
- Uau! Esta foi a viagem mais incrível que já fiz na vida! Meus amigos não vão acreditar!
ABUTRE
- É bem provável que não, mesmo… Croááá! (Debocha a ave, rindo do menino) Bom, meu jovem, siga por esta trilha e após algumas horas de caminhada chegará a um lugar belíssimo, com duas fileiras de palmeiras altíssimas, de frente para uma grande lagoa. Lá, encontrará outras pessoas, boas como você. - Os olhos e a boca de Jonas se abrem em completo pasmo, surpreso com a descoberta de que ele havia voltado para sua terra.
JONAS
- Mas... eu conheço este lugar, eu estou em casa! Viva! Nem acredito!!! - Volta-se contrariado para o abutre e pergunta: - Mas você falou que ia me levar para um lugar onde as pessoas são livres e as coisas são feitas porque são o correto a se fazer...
ABUTRE
- Sim, eu disse.
JONAS
- Então, por que me trouxe de volta?
ABUTRE
- Croááá!!! Por que as coisas podem até não ser exatamente assim, mas serão, se você fizer com que sejam. Qualquer lugar, até mesmo Corrumpo, pode ser um paraíso quando as pessoas são livres de verdade.
JONAS
- Corrumpo? Mas como? Os habitantes daquela ilha já pensam que são livres… na verdade eles são escravos, tem medo até da liberdade! Sempre tem alguém para lhes dizer o que fazer, quando fazer e como fazer. Até o pouco que lhes sobra eles entregam para o Grande Inquisidor decidir.
ABUTRE
- Liberdade é escravidão... sim, eu já ouvi. As pessoas naquela ilha pensam que são livres, mas apenas fazem o que lhes dizem para fazer, não passam de escravos. A verdadeira liberdade é poder procurar as soluções por conta própria.
JONAS
- Mas como? São tantos problemas em Corrumpo, eu nem sei se poderiam… e mesmo que pudessem, quais seriam as soluções? O que poder ser feito? - Jonas senta-se levando as mãos à cabeça, desesperado por não conseguir encontrar soluções para os problemas que presenciou na ilha de Corrumpo.
ABUTRE
- Ah, meu jovem, você está tentando ter uma visão do futuro? - Pergunta a ave, olhando-o com ternura.
JONAS
- Eu… eu, acho que sim.
ABUTRE
- É exatamente este é o problema, não percebe? Sempre que alguém imagina uma solução mágica ou tem uma visão de como seria a sociedade ideal, tenta forçar os outros em direção a ela.
JONAS
- Sim, claro! São capazes de mentir e até de usar as armas para conseguirem o que querem, mesmo que todo um povo pense diferente... - Lembra da sua terra e abaixa a cabeça de tristeza.
ABUTRE
- O mal não surge apenas das pessoas más, mas das pessoas boas que toleram essas más ações.
JONAS
- Então... eu não devo tentar encontrar soluções para os problemas?
ABUTRE
- Encontrar o que é melhor para si próprio, talvez, decidir pelos outros, nunca! Se as pessoas de Corrumpo, ou de qualquer outro lugar, tiverem liberdade para fazer as suas próprias escolhas seguindo o exemplo de quem elas admiram e respeitam, sim, é muito provável que elas criarão um mundo muito melhor do que qualquer outra pessoa poderia jamais ter planejado para elas.
JONAS
- Hum… entendi! (Os olhos de Jonas brilham) Se as pessoas forem realmente livres elas podem encontrar as soluções mais inesperadas.
ABUTRE
- Mas... lembre-se, os homens não são deuses... eles falham, eles tropeçam... eles erram… Croááá! E é por isso que precisam de pessoas como você, Jonas, com coragem para questionar o que parece errado, para defender o que é realmente importante e para mostrar onde o governo deve ou não se intrometer.
JONAS
- Acho que entendi mas não sei se alguém vai me dar ouvidos...
ABUTRE
- As pessoas julgarão as suas ações, não as suas palavras. Lute pela autonomia delas, respeitando a natureza de cada uma e você verá quantas delas serão tomadas pela coragem. Seja para preservar aquilo que sempre funcionou, seja para fazer as mudanças necessárias, sempre bem-vindas. Preciso partir agora, meu amigo, adeus! - O grande pássaro abre suas enormes asas e se despede de Jonas, soltando um último grunhido e alçando voo, desaparecendo por entre as nuvens.
JONAS
- Uma sociedade livre é possível, basta coragem para pensar, para falar e para agir! Principalmente quando o mais fácil é não fazer coisa alguma... Adeus, meu amigo abutre, adeus!
Fim
***
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