terça-feira, 11 de outubro de 2022

PEQUENO TEATRO DA LIBERDADE - 12.2/14

Ato XII.Cena2 - A gangue da democracia

MAL TERMINOU DE DIZER AQUELAS palavras e passa alguém correndo, gritando: “É a Gangue da Democracia! A Gangue da Democracia! Corram! Corram!!!”. Uma gritaria pavorosa toma conta da rua. Os moradores do prédio amarelo se escondem, as famílias descem correndo as escadas, alguns pulando e jogando seus pertences pelas janelas. As pessoas debandam, procurando um lugar para se esconder. Ana, ligeira, ergue-se num salto, - Temos que sair daqui, rápido! - reage, puxando Jonas pelas mãos. Uma pedra quebra a vidraça novinha do prédio vermelho e, sem demora, os dois se escondem atrás de uma parede. A gangue da Democracia aparece: meia dúzia de moleques arruaceiros e falastrões.


JONAS
- Qual é o problema desse pessoal?

ANA
- Shiu! Fale baixo, a
Gangue da Democracia consegue tudo o que quer! Eles cercam as pessoas e decidem no voto o que vão fazer com elas. Podem decidir tirar o seu dinheiro, trancar você numa caixa, até forçar a pessoa a entrar na gangue deles. E não há nada, nem ninguém que possa detê-los!

 JONAS
- E a lei não protege as pessoas dessa gangue? Cadê a polícia ou aquele monte de fiscais que estavam aqui até agora há pouco? - Um garoto passa correndo pela rua e é cercado pela gangue.

ANA
- Até tentaram, assim que a gangue se formou e começou a agir eles foram levados pela polícia até o tribunal. A gangue alegou que estava apenas seguindo o princípio de que vale a decisão da maioria e que os votos determinam tudo – legalidade, moralidade, tudo! - A gangue vota e decide pegar a camiseta do garoto. Ele não entrega e a gangue ameaça fazer outra votação para decidir se é justo bater nele ou não, e ele acaba entregando a camiseta.

JONAS
- E eles foram condenados?

ANA
- O que você acha, Jonas? (Irritada com a inocência de Jonas) Acha que eu estaria aqui, escondida se eles tivessem sido presos? Não… os juízes decidiram a favor deles, por três votos a dois. Chamaram o caso de o
Direito Divino da Maioria, que é a base das leis e do próprio tribunal. Desde então, ficaram livres para andar por ai, atrás de qualquer um que possam superar em número.

JONAS
- Como é que as pessoas conseguem viver num lugar maluco deste? Primeiro, tem os Iluminados que, ao invés de ajudarem, ficam decidindo um monte de coisas absurdas e sem noção só para agradar alguém ou algum grupo específico, agora, tem essa
gangue da maioria, que decide o que quer e os outros são obrigados a fazer… tem que haver uma maneira das pessoas se defenderem! - Desabafa, indignado com tudo naquela ilha esquisita.

ANA
- A única maneira de vencer a
Gangue da Democracia é entrar em uma outra gangue, mais numerosa. As pessoas também não correriam se pudessem se defender, sem ficar dependendo do Estado. Aliás, se isso fosse possível, duvido que existiria uma gangue como aquela em Corrumpo. - A gangue corre atrás de outra vítima e os dois saem detrás da parede.

JONAS
- É realmente terrível que as pessoas aqui tenham que lutar contra tudo e contra todos, o tempo inteiro. Que eles não tenham liberdade para inventar coisas que melhorem a sua vida... tudo o que querem é levar algum tipo de vantagem, criar alguma lei para ganharem mais ou trabalharem menos, mesmo que isto prejudique a maioria.

ANA
- A maioria do povo aprendeu a agir assim com os exemplos do dia a dia. O Conselho dos
Iluminados é que deveria proteger o povo mas as pessoas usam o poder do conselho a seu favor, seja pelo voto ou pelo suborno. No final, quando alguém manipula o conselho, pode te forçar a fazer qualquer coisa, e os Iluminados sempre saem ganhando!

JONAS
- Um governo deveria existir para preservar a paz. - Jonas esta perplexo pois sempre presumiu boas intenções nas ações das autoridades e que os representantes populares fossem guardiões da honestidade e protetores dos interesses da população.

ANA
- Jonas, lembre-se sempre (bocejando), nem toda boa intenção tem bons resultados. Sempre questione, nunca... (boceja, novamente) nunca assuma algo como verdadeiro só por que alguma autoridade ou um especialista diz que é, sempre questione… (deitando-se na grama) faça perguntas sinceras… sempre (fechando os olhos) presuma alguma outra coisa... - Ana dorme profundamente e Jonas a cobre com um pedaço de papelão, deitando-se em outro canto.

 

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