segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

PEQUENO TEATRO DA LIBERDADE 06.1 / 14

 

ATO VI / Cena 1 - A máquina dos sonhos

Decepcionado, Jonas se vê novamente sozinho, perdido naquela cidade estranha e com gente esquisita, “eu não estou legal”, desabafa, só quer voltar para a sua casa. Sua barriga ronca de fome e lembra-se de que não comeu quase nada desde manhã. Pensa em voltar para o litoral e tentar encontrar um porto, onde houvesse barcos nos quais pudesse pedir para trabalhar em troca de uma passagem para casa, afinal, era um rapaz honesto e esforçado, e toparia qualquer tipo de trabalho. Caminha sem rumo por entre as gentes quando percebe um velho carroceiro tentando subir, sem sucesso, uma pesada máquina em sua carroça. Ele observa o velho, repetindo os mesmos movimentos como quem sabe exatamente o que faz, mas frustrado pela ausência da força que um dia teve mas que se foi com a idade. Agora, é o velho quem o observa.

SANTANA
- Ei, menino! Venha cá, venha cá... te pago cinco
ciros se me ajudar a colocar essa máquina na carroça.

JONAS
- Cinco
ciros?

SANTANA
- Dinheiro, garoto! Cascalho, grana, bufunfa! Quer ou não quer?

JONAS
- Claro, claro!... Quem sabe eu não junto o bastante para poder sair daqui. - Aquele homem esquisito usava um chapéu ainda mais bizarro, vermelho, todo cheio de penas, que ficavam caindo enquanto ele ensinava Jonas onde pegar para levantar aquela grande máquina para cima da carroça.

SANTANA
- Pronto! Muito bem… (ofegante) você estava dizendo… para onde quer ir, meu filho? Qual é o seu sonho? - Pergunta o velho a Jonas, limpando o suor da testa.

JONAS
- Ir para casa... - Jonas lê a inscrição na máquina, em grandes letras douradas: -
MÁQUINA DOS SONHOS DE LUIS DA SILVA, máquina dos sonhos? Quer dizer que essa máquina faz os sonhos das pessoas virarem realidade?

SANTANA
- Certamente que faz! - Responde, retirando um painel da parte traseira da máquina, onde se via as partes de um antigo toca discos. Na parte de cima ficava o alto-falante, por onde o som saía.

JONAS
- Espera aí, isso é apenas uma velha caixa de música!

 SANTANA
- O que você esperava? Uma linda fada azul? - Debochou o homem.

JONAS
- Sei lá, esperava por algo mais misterioso, alguma coisa realmente especial, capaz de fazer os sonhos das pessoas virarem realidade. - O homem larga o painel e vira a cabeça, observando-o maliciosamente, como já deveria ter feito milhares de outras vezes, com centenas de outras pessoas.

SANTANA
- A máquina dos sonhos diz às pessoas o que elas querem ouvir. Diz o que elas devem fazer para realizar os seus sonhos. (Vendo a expressão confusa de Jonas, continua) Escuta, todas as pessoas têm desejos, certo? Então elas me pagam, eu giro esse botão, aperto este outro e pronto! A velha máquina toca a mesma mensagem, a mesmíssima mensagem..., mas sempre encontra muitos sonhadores que adoram ouvi-la.

JONAS
- Então essa máquina hipnotiza essas pessoas?

SANTANA
- Ah, não... não, não, não! (Balançando o dedo em riste) Ela lhes diz que eles são pessoas boas e o que desejam também é algo de bom. Tão bom, que eles deveriam exigir isso! O único problema é que quando se faz um desejo, nunca se sabe exatamente para quem o desejo vai se realizar.

 JONAS
- É só isso? - Rebate, frustrado com a explicação.

SANTANA
- Só isso.

JONAS
- E o que é que esses sonhadores exigem?

SANTANA
- Ah, isso depende de onde eu paro. Normalmente, em frente a alguma fábrica como aquela ali, no final da rua, as vezes eu paro a máquina em frente à Prefeitura. O que as pessoas sempre pedem é mais dinheiro, como as coisas estão sempre mais caras, ter mais dinheiro é uma coisa boa.

JONAS
- E essas pessoas que desejam mais dinheiro, elas conseguem?

SANTANA
- Algumas conseguem... (estalando os dedos) assim! Depois de ouvir a máquina, os operários daquela fábrica fizeram um protesto em frente à sede dos Iluminados e exigiram leis que obrigassem a fábrica a triplicar os seus salários e... conseguiram!

JONAS
- Isso parece ótimo! Eles devem ter ficado muito felizes!
 

SANTANA
- Felizes, sim, mas por pouco tempo. A fábrica fechou há alguns dias. Parece que não conseguia ter lucro suficiente para pagar esses salários maiores.

JONAS
- Mas então os sonhos deles não se tornaram realidade, se a fábrica fechou, ninguém vai receber mais dinheiro, nem mesmo o salário... o senhor é um mentiroso!

SANTANA
- Pera lá, meu jovem, pera lá! Os sonhos viraram realidade sim, apenas não se sabe para “quem”, mas alguém conseguiu realizar esse desejo! Quando os custos sobem aqui e uma fábrica se fecha em Corrumpo, aumenta a quantidade de pedidos, de empregos e até de salários... veja só! Só que em uma outra fábrica, em uma outra ilha. Os trabalhadores daqui desejaram, mas quem levou foram os trabalhadores de lá (dando de ombros). Tome aqui o dinheiro, meu rapaz, cinco ciros, como combinado.

JONAS
- Obrigado. Para onde o senhor vai agora? - Agradece ao velho, guardando o dinheiro no bolso da calça.

SANTANA
- Oras, para qualquer lugar! (Levantando os braços) Para qualquer ilha, com qualquer povo... para onde precisarem de mim e houver desejos de coisas boas!

 

 

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