ATO VI / Cena 2 - Criando dificuldades para vender facilidades
Jonas ficou ali, parado, observando o velho e a carroça se afastarem lentamente. Pensa nas palavras do carroceiro, no que lhe fazia feliz e nas pessoas que ele ama. Lembrou dos pais, dos seus amigos, dos lugares queridos de sua ilha. Colocou as mãos nos bolsos de sua calça e sentiu um pequeno papel dobrado. Era a nota de cinco “ciros” que o velho havia lhe dado. Levou-a contra a luz e ficou pensando se aquele pedaço de papel amassado, com um número tão pequeno escrito nele ainda valia alguma coisa. Pensativo, desabafa em voz alta e nem percebe a presença da mulher observando-o detalhadamente, cerrando os olhos, como se fosse um caçador observando a sua presa, procurando o ponto mais vulnerável antes do bote.
JONAS
- Será que eu fui enganado? - Distraído, nem percebe a mulher chegando de mansinho, até ser interrompido bruscamente e levando um baita susto.
DIRCE TRAMÓIA
- OLÁ!!! (Falando alto) TUDO BEM? COMO VAI? MUITO PRAZER! QUE LINDO DIA, NÃO? - Cumprimentando-o efusivamente, sacudindo sua mão sem parar.
JONAS
- O-Olá?... - Ainda se recuperando do susto daquela mulher robusta e toda alegre que apareceu do nada.
DIRCE TRAMÓIA
- Eu sou Dirce Tramóia, representante deste liiindo bairro no Conselho dos Iluminados e ficaria muuuito grata em ter a sua contribuição e o seu voto para me reeleger para este importante cargo de representante desta valorooosa comunidade. - Disse tudo isso num fôlego só e sem soltar a mão de Jonas.
JONAS
- É mesmo, é? Mas, o que... - conseguindo soltar a sua mão.
DIRCE TRAMÓIA
- Sim! Sim! Sim!!! (Interrompendo Jonas novamente, e mal ouvindo sua resposta) E vou lhe pagar muuuito bem. Estou disposta a lhe oferecer um graaande negócio! Melhor proposta não há! O que me diz, meu rapaz? Hein, o que me diz?
JONAS
- Eu... a senhora... quer dizer, a senhora vai me pagar por uma contribuição e um voto? - Ainda desconcertado, sem entender qual era a proposta daquela senhora maluca que fala demais, coisa sem coisa, sem, ao menos, parar para respirar.
DIRCE TRAMÓIA
- Claro que não! Eu não posso lhe dar dinheiro, isso seria propina, o que é muuuito ilegal, e corrupção ativa é um crime bem grave. Maaas... eu posso lhe dar algo tão bom quanto dinheiro e que vale bem mais que o valor da sua contribuição e é isso que farei o que me diz? - Diz sorrindo, cutucando-lhe a barriga com o cotovelo e dando pequenas piscadelas bem indiscretas.
JONAS
- Hum, parece bom. Mas como é que a senhora... - mal termina de perguntar é novamente interrompido.
DIRCE TRAMÓIA
- Vamos, diga-me rapaz, qual é a sua ocupação? Eu posso lhe conseguir um financiamento, uma licença, um subsídio ou, quem sabe, você está precisando de um benefício fiscal? Já seiii... (abaixando-se e falando baixinho ao ouvido de Jonas) você precisa arruinar seus concorrentes... eu posso criar normas! Taxas, inspeções, regras malucas, regulamentos... (jogando papéis e mais papéis para cima) veja! Melhor investimento, não há.
JONAS
- Entendi... a senhora é realmente muito generosa, Sra. Dirce, e também deve ser bastante rica, para querer me dar muito mais do que me pede em
DIRCE TRAMÓIA
- Eu, rica? Hahahahaha (rindo gostoso, saboreando aquelas palavras). Eu não sou rica,
bem, ainda não. Generooosa? Pode-se dizer que sim, mas eu não pretendo pagá-lo com meu próprio dinheiro, é claro. Em verdade, eu cuido do dinheiro do governo, aquele que vem dos impostos e, para ser bem sincera, posso ser bastante generooosa ao usar esses fundos, especialmente, com as pessoas certas.
JONAS
- Mas, isso não seria uma espécie de... você sabe... tipo, um suborno? - Dirce Tramóia perde a paciência com Jonas.
DIRCE TRAMÓIA
- Escuta, eu vou ser mais clara com você, meu amigo (passando o braço sobre o ombro de Jonas e apertando-o junto ao seu corpo). É suborno, mas é legal quando o político usa o dinheiro das outras pessoas e não o dele. Você também não pode me dar dinheiro em troca de favores, mas... se for uma (fazendo aspas com as mãos) contribuição de campanha, ah... aí tudo bem!
JONAS
- Eu não compreendo (tentando sair daquele abraço desconfortável). Para mim, não tem diferença de quem é o dinheiro ou de quem dá dinheiro, para quem, em troca de votos ou de coisas (desgarrando-se). Não importa o nome que se dê para isso, continua sendo a mesma coisa, ainda é suborno. - Dirce Tramoia olha Jonas dos pés a cabeça, como que avaliando aquele rapazinho esfarrapado.
DIRCE TRAMÓIA
- Ninguém lhe paga nada enquanto você não tem favooores para vender. Você ajuda o carroceiro com um probleminha e ganha um dinheirinho, eu ajudo as pessoas com graaandes problemas, como um imposto ou uma fiscalização, e ganho um dinheirão! Felizmente, para mim, eu sempre encontro uma maneira de evitar as milhaaares de normas que eu mesma crio... hehehe, e sempre tenho favores valiosos para vender.
JONAS
- A senhora pede o dinheiro e o voto das pessoas em troca de ajudar a resolver as dificuldades que você mesma criou... e com o dinheiro delas!!! - Arregalando os olhos, entendendo a tramoia.
DIRCE TRAMÓIA
- Beijo, tchau. Já vi que não vai dar em nada. - Diz, dando-lhe as costas e indo embora. Jonas fica boquiaberto com tamanha falsidade daquela senhora interesseira
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