ATO VII - Bazar de governos
Uma vaca marrom vem calmamente pela rua quando percebe Jonas amarrado no beco. Jonas ainda se debate, tentando se livrar das cordas quando ouve um mugido vindo na direção da rua. O grande animal muda de direção e vai ao seu encontro, enquanto muge um sonoro “muuuuu”, entortando a cabeça, espantada pela presença daquele menino ali, amarrado no chão. Logo, aparece uma outra vaca, amarela, guiada por um velho resmungão e seu pequeno bastão. O badalo em seu pescoço ressoa ritmicamente, acompanhando o balançar das ancas do animal até que silencia, observando aquele ser curioso ali no beco.
VELHO
- Anda, mimosa, vai criatura! Não temos o dia todo! Tem muito chão ainda até a feira... - resmunga o velho, cutucando a vaca amarela com a pequena vara.
JONAS
- Ei! Senhor! Pode me ajudar!?!
VELHO
- Quem está ai? - Pergunta, olhando para o beco e encontrando Jonas no chão, amarrado.
JONAS
- Poderia me ajudar com a corda, fui assaltado e o ladrão me amarrou. Ele levou o meu dinheiro! - O velho saca um canivete do bolso e corta a corda. - Obrigado, senhor! - Agradece Jonas, passando as mãos pelos pulsos doloridos.
VELHO
- A cidade é um lugar perigoso, meu jovem. Eu mesmo, se não tivesse pensado que o governo poderia me ajudar, nunca teria colocado os pés aqui, novamente!
JONAS
- O senhor acha que o governo pode me ajudar a recuperar o meu dinheiro?
VELHO
- Não (balança a cabeça negativamente, resoluto). Mas não custa tentar… quem sabe você, jovenzinho, não tenha mais sorte do que eu lá no Bazar de Governos.
JONAS
- O que é Bazar de Governos? É um lugar onde se vende o gado? - Pergunta, apontando para as vacas do velho.
VELHO
- Isso é o que eu vim descobrir. Na verdade, é uma espécie de feira livre, onde os homens ficam vendendo todo tipo de governos, para tratar dos assuntos dos cidadãos.
JONAS
- Hein? Não entendi nada. O que é que eles vendem nesse lugar?
VELHO
- Veja só (traqueja, ajeitando as calças), cada vendedor oferecia uma forma de governo. Tinha lá um lenhador que se dizia socialista. Ele me disse que tiraria uma das minhas vacas e daria para outra pessoa que está precisando. Eu não dei muita bola, pois se é para ajudar alguém eu mesmo ajudo. Não preciso de alguém para me ajudar a dar uma vaca minha a alguém necessitado, eu mesmo faço. Tinha também um outro sujeito, de sorriso largo e dizendo que se importava demais comigo. Bem estranho, pois eu nunca vi o tal sujeito na vida. Parecia um cara legal, mas aí disse que seu governo me tomaria as duas vacas! (Exclama o velho, indignado) Veja se pode! Disse que seria justo pois todos seriam donos de todas as vacas e, QUANDO eu precisasse, ele me daria um pouco de leite... e ainda precisava cantar um hino lá, do partido deles...
JONAS
- Um hino? Deve ser legal...
VELHO
- Mas não ajudou muito, ainda mais quando eu vi que ele ia ficar com a maior parte do leite, mesmo. Então, eu continuei olhando, dei uma volta pelo salão e encontrei dois vendedores batendo boca, um deles era o fascista e o outro o nazista. Suas propostas eram iguaizinhas à do comunista, me tirariam as duas vacas e, olha a cara de pau… me venderiam uma parte do leite! (solta uma grande gargalhada) Veja se pode! Eu, tendo que pagar pelo leite da minha própria vaca! Daí a discussão recomeçou, pois o fascista me ameaçou se eu não fizesse continência para a bandeira dele, ali mesmo… enquanto o nazista queria que eu vestisse um uniforme...
JONAS
- Mas que loucura! Daí o senhor saiu de lá correndo, certo?
VELHO
- Antes que eu pudesse dar um passo, apareceu um outro vendedor, o burocrata. Ele me cercou e disse que o governo dele cuidaria de tudo, que ele tinha a solução perfeita. Para começar, ele precisava valorizar o produto, então cuidaria das minhas duas vacas. Mas daí, disse que ia matar uma delas para reduzir a oferta de leite e que ia ordenhar a outra para, veja só a loucura das grandes! Jogar metade do leite fora!!! Agora, me diga, se o sujeito não tem que ser muito doido para fazer uma coisa dessas?
JONAS
- Essa história parece mesmo muito estranha. E o senhor escolheu algum desses governos?
VELHO
- Nem pensar, meu filho! Quem é que precisa deles? Eles que cuidem dos assuntos deles, como a saúde e a segurança (mostrando a Jonas a corda que o ladrão usou) e me deixem em paz para eu mesmo cuidar das minhas vaquinhas… que é o que eu vou fazer agora, vou vender uma delas e comprar um touro, isso sim!
JONAS
- E, quanto a mim, será que os Iluminados podem me ajudar?
VELHO
- Vai, mimosa!!! (cutucando as vacas novamente) Não sei, meu filho, não sei, mas não custa tentar. Siga reto por esta rua e você vai encontrar a prefeitura de Corrumpo. Boa sorte, meu filho! - Cumprimenta Jonas e sai, cutucando suas vacas
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