terça-feira, 23 de maio de 2023

PEQUENO TEATRO DA LIBERDADE - Ato 03 / 14

 ATO III - Velas e casacos

Como alguém pode reclamar de uma ideia tão brilhante como aquela? Jonas está muito triste com o que acabou de presenciar, sem entender nada. Para onde será que a levaram? O que eles farão com aquela mulher? Segue pela trilha, cabisbaixo e pensativo, quando chega num riacho e nem percebe que uma velha senhora vem vindo. Ela veste um casaco de lã perdulário, vindo rápido em sentido contrário. Os dois se encontram na pinguela no meio do córrego, dando uma trombada, quase caindo e molhando a canela. Jonas a segura pela mão e evita que a velha e o grande papel amarelado caíssem na água.

JONAS
- Mil perdões, minha senhora! Venha, eu a ajudo. - Diz, ajudando a velha a se equilibrar.

VELHA
- Ai… ui… você quase me derrubou, garoto… ajuda-me! Cuidado com o meu casaco… olha o meu casaco! Cuidado!

JONAS
- Desculpa, desculpa. Porque a senhora está vestindo um casaco de lã neste calor?

 VELHA
Dá uma esticadinha no casaco e empina o nariz para responder. - Eu sou a representante dos fabricantes de casacos e velas e estava indo me encontrar com os lenhadores, isso, até você quase me derrubar! A propósito, (pegando uma medalhinha dourada no bolso do casaco peludo) você poderia assinar o meu abaixo-assinado? - Devolvendo o papel amarelo que Jonas acabou de lhe entregar.

JONAS
- Bem, não sei… (olha para o papel em sua mão, depois se vira para o caminho da trilha) a senhora sabe me dizer se esta trilha leva para uma cidade? - Devolve o papel amarelo para a velha.

VELHA
- Você é desta ilha, meu jovem?

JONAS
Jonas hesita por um instante mas responde convicto - Eu… ah, eu sou da costa, é que eu me perdi!

VELHA
- Ah, que bom! Siga por esta trilha e você vai encontrar a cidade. Antes, porém, poderia assinar o meu abaixo-assinado? Ajudará tantas pessoas... poderia, hein? - Entregando o papel amarelado novamente para Jonas.

 JONAS
- Claro, claro. (Pegando a caneta da velha senhora) Se significa tanto para a senhora. Para que mesmo é que serve esse abaixo-assinado? - Pergunta, assinando o papel e devolvendo-o à velhinha, cheio de pena dela, suando debaixo daquele casacão em um dia tão ensolarado, indo pedir assinaturas aos lenhadores lá na praia.

VELHA
- Este é um pedido para proteger os empregos e a indústria. Você é a favor dos empregos e da indústria, certo?

JONAS
- É claro que sou! - Responde rapidamente, arregalando os olhos de pensar no que acontecera àquela pobre mulher sequestrada há pouco, perto da praia. - E como exatamente este abaixo-assinado ajudará?

VELHA
- Se eu conseguir colocar aqui neste papel um número suficiente de assinaturas, o Conselho dos Iluminados fará tudo ao seu alcance para ajudar os setores que eu represento.

JONAS
- Dos fabricantes de casacos e velas. - A senhora concorda, sorrindo e acenando com a cabeça. - E como eles fariam isso?

 VELHA
- Mas não é óbvio, meu filho? Banindo os produtos estrangeiros que prejudicam os meus negócios aqui na ilha! Esse abaixo-assinado é para o banimento do Sol! - Mostrando o valioso papel amarelado a Jonas.

JONAS
- Do Sol!? Como… hã… o quê??? Como assim banir o Sol? - Protesta Jonas, perplexo com a proposta estapafúrdia.

VELHA
- Eu sei, eu sei… (enrolando o papel amarelado) eu sei que parece meio drástico e tal mas, você não percebe, o Sol prejudica os fabricantes de velas e os fabricantes de casacos. O Sol é uma fonte externa muito barata de luz e de calor. Bem, isto simplesmente não pode ser tolerado!

JONAS
- Mas a luz e o calor do Sol são de graça.- Conclui, rindo daquela insanidade toda.

VELHA
- É esse o problema! Você não percebe? Segundo os meus cálculos, o fato de o Sol oferecer luz e calor de graça,
de graça, (enfatiza) reduz em pelo menos 50% o potencial de empregos e salários dos setores que eu represento. É uma coisa óbvia! - Responde, ofendida. - Quem sabe os Iluminados não criem uma pesada taxa sobre as janelas, quem sabe eles não proíbam as janelas! isso já melhoraria sensivelmente a situação! - Sorri, imaginando esta nova possibilidade.

JONAS
- Mas se as pessoas pagarem essa taxa aos fabricantes de casacos e velas pela luz e pelo calor, elas terão menos dinheiro para outras coisas, como carne, bebida ou pão. - A velha esconde rapidamente o papel amarelado, antes que Jonas mudasse de ideia e pensasse em retirar a sua assinatura.

VELHA
- Veja só, eu não represento os açougueiros, nem os cervejeiros ou os padeiros e, obviamente, o senhor não está interessado na preservação de empregos ou de salários... deve ser apenas outro tonto, interessado nos seus próprios caprichos de consumo. Passar bem, meu jovem! - Encerrando bruscamente a conversa e seguindo o seu caminho até a clareira onde estão os lenhadores.

JONAS
- Eu hein? Banir o Sol! Que maluquice...

 

 

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